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sábado, 19 de novembro de 2011

Sonho Feneceu















Sonho Feneceu

Um sonho cheio de ventura,
a vida um jardim de sossego
na calma alegre de suave ternura,
o lar, doce lar, puro aconchego!

Um belo dia, o grito de loucura,
era o fim de todo esplendor,
dor da traição, mentira, impudor
no silêncio pesado de sepultura!

Pranto desabando, fim do amor,
rosa murchando, verdade apareceu
ali, estava claro, a rosa sem pudor!

Neste momento o céu escureceu,
estrela perdeu brilho, feneceu,
na noite em aquele amor morreu!

Marta Peres

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Flores do Jardim


















Flores do Jardim



Olhei pro jardim!... Ah, rosa Divina!
Jamais te esqueço: - Ah, nobre canção!
(... sinto o badalar do teu coração,
e, as flores vieram ao nosso clima!)

Em sonhos colhi, linda menina,
o tremular das notas do meu som.
refleti na encantada união...
Inexplicável tua luz cristalina!...

Rompemos as barreiras: - Fiquei assim!...
Ah!... Tua cor mel, um jambo, - meus versos...
Meus dias serão teus!... Ternos do Universo!

Em tua luz Soberana, Ó Estrela;
ouço, em todos cantos, a mais bela!
Imortal será teu olhar pra mim!

Machado de Carlos

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sábado, 5 de novembro de 2011

DIA DE PARTIR






















DIA DE PARTIR


Por Fátima Venutti



Dia de finados.
A cama vazia, silêncio virado em saudade.
Pela janela, o vento empurrava o voil
enquanto a vida passava em Super 8 pela TV.
Um pigarro a mais, puxou a bacia
sob a cama e cuspiu: mais um sonho, menos um dia.


Margaridas no campo santo.
O vazio do corpo, saudade alimentando a lápide.
Um Pai Nosso, três Ave Marias e um Glória a Deus.
Mais um ano na imensidão do vazio:
da cama, da carne açoitada, da vida desnecessária.
A chuva calou as velas acesas. Mais um pigarro...


A casa vazia, o ruído da placa: vende-se
O silêncio em nortes, histórias escritas nas paredes,
Chinelos esquecidos na varanda, a rede, o sofá,
O nó, a escada, a corda, o vento: saudade.
Sob a cama, a bacia transborda excrementos.
A morte é um girassol a se levantar todas as manhãs.

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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Riacho.
















Riacho

Riacho, que nasce entre morros e montanhas,
Riacho, que se forma de gotas entre as rochas,
Riacho, que gota a gota cai entre as rochas,
Riacho, que escorre entre pedras lisas,
Riacho, que em suas gotas criam lâminas de água,
Riacho, que forma correntezas se agrupa,
Riacho, que agrupam com outras nascentes,
Riacho, que desce os morros em forma de cascata,
Riacho, que faz seu leito natural e desce corredeira abaixo,
Riacho, que irá ser um afluente de um rio,
Riacho, que se juntando ao rio, irá desembocar no oceano,
Riacho, que por sua pequenez, ajuda a compor água,
Riacho, que ajuda a matar nossa sede e irrigar as lavouras,
Riacho, que sabe de sua importância, jamais desiste,
Riacho, que a milhões de anos presente em nossas vidas,
Riacho, que aos poucos estamos matando, desmatando,
Riacho, que sempre nos serviu, sem protestar,
Riacho, que está agonizando e morrendo,
Riacho, que morre, pelo descaso humano, tomado pela ganância,
Riacho, que em breve irá sumir, por conta do homem,
Riacho, que se forma de gota em gota,
Riacho, que o homem esquece os pequenos detalhes,
Riacho, que o homem perderá por pecar nos pequenos detalhes,
Riacho, que agoniza,
Riacho, que está no fim,
Riacho, que deixará homens com sede, irão morrer todos,
Riacho, que após morrer, não terá mais como ser salvo,
Riacho, que não irá perdoar ser mau tratado,
Riacho, que morreu.

Neuza Rodrigues Ferreira

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Pássaro.















Pássaro.

Ouvi um pássaro cantar no escuro
Por um instante meu pensamento vou,
pelo mesmo caminho,
Uma coisa mágica e tão doce de lembrar,
O vento começou a soprar tão amargamente frio,
Escondeu a lua no céu embasado não sei,
Como quem diz que quem vem nada tem nada pode perder,
Mas ainda assim o pássaro estava tão alto e tão ousado,
Esqueço então tudo o passado e a saudade ficam pela metade,
A casa vazia espera uma sombra que chega primeiro que eu,
Fecho os olhos e como um pássaro vou em direção ao canto,
Como foi bom viver aquela emoção!
A noite passou trazendo um longo dia,
Eu fiquei lá maravilhada com o pássaro,
Que cantou sua canção,
Que aqueceu meu coração.

Neuza Rodrigues Ferreira.

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No Campo Santo




















No Campo Santo

Sua natureza selvagem e indomada
gritava enlouquecida, cabeleira da cor do sol
solta ao vento, ela corria pisando terra molhada,
grama orvalhada, dizia aos gritos: quero dormir,
dormir, dormir e dormir, não acordar mais
ou então, num outro mundo colorido despertar
do sono de décadas e décadas,
ao lado do meu doce bem...

Não é este o meu mundo, não, não é mais meu,
não o quero, então, porquê...porquê acordar aqui!
Quero acordar num outro, distante,
não quero lembrar o que fui e o que fiz.

Corria, corria, pelas avenidas floridas,
corria tendo na mão uma rosa,
corria e dos seus olhos corriam lágrimas.

A pobre não se sentia socorrida, coração
aos saltos, queimando, desesperava-se cada
vez mais e mais entendendo a situação,
sua insônia desvendava o que os olhos
teimavam encobrir. Não a viam, nem ouviam.

Tentava pegar o ar com as mãos como
se estivesse apanhando borboletas, tentava
falar com um e com outro, não a ouviam
nem a viam, passavam por ela deixando-a
ali na nova morada.

Cansada, senta-se debaixo de frondosa árvore,
sentia-se suja pelo que fizera, página branca
dentro das muralhas, com as mãos, cobria
os olhos, não queria ver nem ouvir as vozes.

Ah, esperança, doce esperança, esperança
vã que permite apenas sonhar por dentro
de palavras soltas ao vento, esperança inútil
que fugiu como foge a fumaça do cigarro,
esperança que queima a alma, brilha no ar
como o punhal da própria morte!

Marta Peres

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